Você já foi dirigindo até algum lugar e, quando chegou, se deu conta de que não lembrava do caminho percorrido? Ou, pode ser que estava tomando banho, e surgiu uma dúvida se já tinha lavado os cabelos? Também é possível que tenha acabado de chegar em casa e simplesmente não sabe onde foi que deixou as chaves do carro? Bom, se você é como eu e como a maioria de nós, meros mortais, há uma grande chance que já tenha vivido algumas destas situações, ou, quem sabe, todas elas, inclusive hoje, ontem ou há 5 minutos atrás.
Mas você pode estar se perguntando por que começamos o texto com essas perguntas.
A resposta é:
Simplesmente porque isso tem tudo a ver com Mindfulness e Meditação.
Como assim?
Não se preocupe, continue lendo que explicaremos tudo direitinho…
Está lembrado dos exemplos que demos na introdução? O banho, o caminho, as chaves, etc. Então, o que ocorre nesses casos é que nós estamos operando em um modo conhecido como “Piloto Automático”. Estar em “Piloto Automático”, como o próprio nome nos explica significa que a tua atenção não está totalmente voltada para o que está acontecendo no momento presente, ou seja, ao invés de estar focada ao que está ao teu redor, tua mente está vagando para outras direções, e nem sempre você está totalmente consciente do que está acontecendo.
E, se você não está aqui de corpo e mente, dá pra dizer que está presente em tua vida? Deixamos essa pergunta para que você possa ir refletindo sobre isso durante a leitura. Enquanto isso, quero de dividir alguns dados interessantes com você.
Pesquisas mostram que, em média, nós ficamos 47% do tempo no “Piloto Automático”. Isto é, passamos quase metade do nosso tempo sem estar realmente conscientes do que está acontecendo em nossas vidas. Esse número é realmente impressionante, mas, além disso, quando estamos com nossa mente vagando, ficamos mais vulneráveis ao estresse, a ansiedade e a depressão. Sem contar que há evidências (Vídeo TED) que relacionam a nossa felicidade ao tempo em que estamos conscientes de nossas vidas.
Calma ai. Quer dizer que para eu ser mais feliz basta eu estar mais presente?
Sim. A ciência tem mostrado que estar mais consciente pode ajudar bastante nesse processo.
Mas como fazer isso? Existem muitas maneiras de treinar e melhorar o nosso nível consciência, entretanto, Mindfulness é uma das mais populares formas atualmente. Inclusive, há muitas pesquisas científicas que comprovam, cada vez mais, a eficácia da meditação e dos programas e técnicas baseadas em Mindfulness.
Além disso, existe a possibilidade de aprender e praticar por conta própria*
* Recomendamos sempre o acompanhamento de um profissional para avaliar as condições clínicas e de saúde do praticante.
Tá bom! Esse papo de estar presente faz algum sentido, mas ainda não sei bem o que é esse tal de Mindfulness.
Então, vamos lá…
Afinal, o que é Mindfulness?
O termo Mindfulness pode ter significados diferentes dependendo do contexto. A palavra é uma tradução para o inglês da expressão Sati (da língua Pali), que quer dizer lembrar, estar atento. Ao usar a palavra Mindfulness, também podemos estar falando de exercícios, técnicas meditativas ou até mesmo dos programas de treinamentos que têm os conceitos de Mindfulness como base. Você pode saber mais sobre os programas clicando aqui.
Na prática, para quem está tendo o primeiro contato com Mindfulness, talvez o significado mais simples e palpável seja um que não citamos nas definições acima, aquele que representa o termo como um estado mental.
Para nos ajudar a explicar o que é Mindfulness, separamos duas frases que vão facilitar esse processo:
“A consciência ou estado mental que surge ao se prestar atenção, de forma intencional, à experiência ou fenômeno presente, sem julgá-la, criticá-la, ou reagir a ela” (Kabat-Zinn, 2002)
“Regulação intencional da atenção, focada na vivência imediata. Orientação para a experiência, caracterizada por curiosidade, abertura e aceitação.” (Bishop, 2004)
Simples, certo?
Sim, mindfulness é simples. Porém, em um primeiro momento, pode ser que isso não pareça tão simples assim.
Por isso, continue lendo, que falaremos um pouco mais sobre o que as definições querem dizer…
Escolhas conscientes
Cultivar um estado mental Mindfulness consiste em direcionar a tua atenção de forma consciente e determinada. Justamente o contrário do que ocorre quando estamos no Piloto Automático que citamos no início do texto.
Quando estamos no modo de Piloto Automático, normalmente, nossa atenção é sequestrada por uma corrente de pensamentos sucessivos, o que faz com que fiquemos no banco do passageiro de nossa mente. Entretanto, quando estamos atentos, consequentemente, temos mais opções, o que nos permite fazer escolhas mais funcionais e conscientes. Desta forma, voltamos ao assento do motorista, e mais do que isso, sentamos nesse banco de forma atenta, com uma atitude aberta e mais preparada do que antes.
Conforme praticamos, começamos a perceber que, aos poucos, passamos a ficar mais tempo no banco motorista, ao invés de permanecer como passageiro apenas. Isso quer dizer que o Piloto Automático se torna cada vez menos frequente e você cada vez mais presente, e estar mais presente, como já vimos, pode significar estar mais feliz 🙂
É natural que nossa mente comece a viajar e que nossa atenção ao presente momento seja rapidamente trocada por pensamentos sobre o passado ou futuro. Na verdade, raramente estamos realmente presentes no agora, conforme mostramos no estudo feito pelo pesquisador de Havard, Matt Killingsworth. Se não assistiu o vídeo, recomendamos que o faça antes de prosseguir, basta clicar aqui.
Por outro lado, a atenção proporcionada pela prática de Mindfulness nos dá a possibilidade de estarmos completamente engajados à experiência do momento presente. O que também permite lidar de forma mais lúcida com as interações que temos durante o dia. Assim, acabamos diminuindo as reações espontâneas e passamos a responder melhor aos desafios e estímulos que recebemos a todo momento.
Quer um bom exemplo?
Sabe quando alguém nos insulta, e nossa primeira reação é devolver a agressão com um xingamento igual ou pior, e, quando paramos pra pensar alguns minutos depois, sentimos aquele enorme arrependimento?
Pois é! Na maioria das vezes, se tivesse a oportunidade de observar um pouco mais aquela situação, é possível que você pensasse:
O que ele fez não foi bacana, mas quem sabe ele só está tendo um dia ruim. E quem não tem dias ruins, não é?
E sabe o que é mais bacana?
Quando praticamos Mindfulness, desenvolvemos a habilidade de voltar ao momento presente e olhar com mais cuidado para aquela situação, ou invés de simplesmente reagir a um pensamento sem exatamente ter escolhido aquela reação. Essa pequena parada de alguns segundos, pode fazer com que um ciclo de agressões e situações desagradáveis seja interrompido, abrindo um novo mundo de possibilidades e escolhas.
A importância do não julgamento
Esse é um conceito extremamente importante para praticar mindfulness. É essencial entender que quando estamos praticando, nosso objetivo não é controlar ou nos livrar de pensamentos, sejam eles bem-vindos ou não. A atitude de não julgamento ajuda a evitar que você entre em uma briga sem fim contra os teus pensamentos.
Pensamentos vem e vão, e se você não der a eles a porção de atenção que eles necessitam para ganhar uma cadeira cativa na tua mente, quando você menos esperar, adivinha? Eles terão ido embora. Outros virão, irão embora embora novamente, e assim a vida segue, esse é o processo natural. O grande problema ocorre quando ficamos presos a alguns pensamentos, porque estamos tentando julga-los como bons ou ruins.
O não julgamento também inclui um tratamento de abertura e carinho consigo mesmo, o que permite que você seja apenas um observador consciente, percebendo pensamentos e sensações sem ser arrastado por eles.
Desta maneira, é como se você fosse um espectador no cinema, olhando para a tela, teus pensamentos estão passando como cenas, e você consegue perceber que, pensamentos são só pensamentos, que eles podem ou não ser uma verdade, e que você não precisa ser controlado por eles.